E neh!?

Blog altamente medonho! É "Parto de uma mente doentia"!

terça-feira, outubro 16, 2007

Alguns Poemas

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.


Postarei alguns poemas que eu gosto....





Fernando Pessoa:





Não estou pensando em nada


E essa coisa central, que é coisa nenhuma,


É-me agradável como o ar da noite,


Fresco em contraste com o verão quente do dia,


Não estou pensando em nada, e que bom!


Pensar em nada


É ter a alma própria e inteira.


Pensar em nada


É viver intimamente


O fluxo e o refluxo da vida...


Não estou pensando em nada.


E como se me tivesse encostado mal.


Uma dor nas costas, ou num lado das costas,


Há um amargo de boca na minha alma:


É que, no fim de contas,


Não estou pensando em nada,


Mas realmente em nada,


Em nada...








Reticencias





Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.


Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;


Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,



Organizar Álvaro de Campos,


E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre…Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.


Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir…


Produtos românticos, nós todos…


E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura…Santo Deus, assim até se faz a vida!
Os outros também são românticos,



Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,


Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,


Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,


Os outros também são eu.


Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,


Rodinha dentada na relojoaria da economia política,


Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,


A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida…


Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,


Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,


E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.


Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,


Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,


E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,


E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema…


Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra…








Clarice Lispector:








Não entendo





Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."





Clarice é que nem eu:





"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."



Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.




E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano.





... passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser.